"Usaram meu nome, isso é crime", diz músico sobre outdoor da Lava Jato
O baterista João Carlos Queiroz Barbosa, 33,
estava saindo de casa para uma gravação quando recebeu uma ligação da PF
(Polícia Federal), em abril, intimando-o a dar um depoimento na
superintendência do órgão em Curitiba. O telefonema lhe desestruturou.
"Fiz um dos piores trabalhos da minha vida", disse. "Fiquei
pensando o dia todo: o que fiz para a Polícia Federal estar atrás de mim?"
Barbosa, o JC Batera,
só descobriu o motivo da intimação ao ficar de frente para o delegado Maurício
Moscardi Grillo. O delegado da PF explicou que precisava saber se ele tinha
contratado a instalação de um outdoor em homenagem aos cinco anos da operação
Lava Jato, em março, numa via de acesso ao aeroporto Afonso Pena, na região
metropolitana da capital paranaense.
"Eu não contratei nada", disse Barbosa, repetindo as informações que
deu à PF. "Os R$ 4.100 que disseram ter custado esse outdoor passam longe
do que ganho por mês como músico e instrutor de bateria."
Barbosa havia sido contatado pela PF pois seu nome e alguns de seus dados
pessoais constavam de um recibo emitido pela empresa Outdoormídia referente à
propaganda.
O outdoor, naquela época, causava polêmica.
Críticos achavam que ele fazia propaganda pessoal de integrantes da Lava Jato,
já que exibia suas fotos.
O CNMP (Conselho
Nacional do Ministério Público) foi acionado para apurar possíveis
irregularidades na propaganda. Até o STF (Supremo Tribunal Federal)
resolveu investigar quem pagou pela placa.
Barbosa se viu "perdido no meio dessa
confusão" por quatro meses. Hoje, ele acredita ter sido vítima de um
crime.
Usaram meu nome de má-fé. Isso é errado. Isso é um crime João Carlos Queiroz Barbosa, músico que aparece como quem pagou pelo outdoor
Músico diz não ter
interesse em política nem dinheiro para fazer propaganda da Lava Jato
"Não tenho nada
com política"
O baterista conversou por
telefone. Disse que é pernambucano, casado e tem uma filha. Mudou-se para
Curitiba em 2013, um ano antes de a Lava Jato começar.
Ele, porém, pouco sabe da operação.
"Conheço [a Lava Jato] de ouvir falar na TV", afirmou. "Sei que
é uma ação para combate à corrupção, mas confesso que esses assuntos de
política pouco me interessam."
"Eu não tenho vínculo nenhum com
política", complementou. "Nem transferi meu título de Pernambuco para
o Paraná."
Barbosa admitiu, sim, ter vínculo com uma
igreja evangélica. Toca para diferentes bandas de música gospel e chegou a
frequentar a Igreja Batista Nova Aliança, que ficava em frente a sua casa, na
rua informada no recibo do outdoor.
O coordenador da força-tarefa da Lava Jato,
procurador da República Deltan Dallagnol, é frequentador da Igreja Batista do
Bacacheri, também em Curitiba. Por causa disto, quando o nome de Barbosa surgiu
nos documentos de contratação do outdoor da Lava Jato, chegou-se a pensar que o
baterista teria pagado pela placa a pedido de algum integrante da operação.
Barbosa nega veementemente. "Não conheço ninguém", disse.
Procurador teria feito
pagamento pelo outdoor
Barbosa negou também conhecer o procurador da
República Diogo Castor, ex-integrante da Lava Jato. Castor, que, segundo
conversas obtidas pelo "The Intercept Brasil", admitiu a seus colegas
da operação, em abril, ter pago pelo outdoor. No mesmo dia da confissão, pediu
afastamento da operação alegando precisar de tratamento de saúde.
Castor foi procurado
pela reportagem, mas não quis se manifestar sobre o caso.
O baterista Barbosa evita culpar o procurador.
"Eu realmente não sei quem fez isso comigo", disse. "Agora, eu
quero que a verdade seja revelada."
Desde que foi chamado para depor pela PF em
abril, Barbosa nunca mais recebeu qualquer informação sobre o andamento da
investigação. No final de julho, preocupado com a repercussão de reportagens
citando seu nome, ele foi ao 11º Distrito Policial de Curitiba e registrou um
boletim de ocorrência. Nem a PF nem a Polícia Civil deram detalhes sobre o caso
envolvendo Barbosa.
O baterista disse não ter raiva nem querer o mal de quem usou
seu nome indevidamente para a contratação do outdoor. Ele teme que o caso acabe
prejudicando sua carreira. Mais do que isso, espera que o erro que um dia
cometeram com ele seja reparado. "Penso nisso todos os dias. Espero que
essa investigação não demore tanto assim para terminar."
Fonte: UOL