PECUÁRIA: Abate não fiscalizado no País corresponde de 3,83% a 14,1% do total
Estudo realizado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, estima que o volume de animais abatidos no Brasil sem fiscalização em 2015 corresponde de 3,83% a 14,1% do total abatido
Para chegar a esses
resultados, o Cepea considerou duas abordagens, a da demanda por carne bovina e
a da oferta de animais “prontos” para o abate. Pelo lado da oferta, a
estimativa nacional do total abatido sem qualquer tipo de inspeção foi de
14,1%, em 2015. Nesta abordagem, empregou-se a base de dados do Projeto Campo
Futuro (parceria entre o Cepea e a CNA), que representa as principais regiões
de pecuária bovina do País.
Já na abordagem da demanda, estima-se que o abate não
fiscalizado no Brasil em 2015 respondeu de 3,83% a 5,72% do total de cabeças
abatidas. As estimativas para este caso foram obtidas a partir de dados
secundários do IBGE (Pnad, POF 2008/2009 e Pesquisa Trimestral do Abate de
Animais) e dados primários sobre o autoconsumo de carne bovina nas propriedades
rurais brasileiras. Os pesquisadores acreditam que as limitações de informações
para esta estimativa conferem algum grau de subestimação. Um exemplo é a falta
de dados mais atualizados sobre o consumo per capita de carne bovina. Uma
restrição à estimativa das proporções para os estados é a falta de informações
sobre a magnitude do comércio interestadual de carne bovina.
Vale ressaltar que o Cepea teve como foco de levantamento dados
de Mato Grosso, Rondônia e Pará.
ASPECTOS METODOLÓGICOS – Na abordagem pela
demanda, estima-se a quantidade de animais necessária para atender ao volume de
carne bovina demandada por estado, seja essa para consumo interno ou para
comercialização com outras localidades. Para cada um dos estados em análise,
tal volume é definido pelas seguintes variáveis: consumo de carne bovina
estadual, comércio interestadual (animais vivos e carne bovina), exportação,
importação e autoconsumo. Esta metodologia evidencia a importância do
autoconsumo, uma prática legal e comum na zona rural, mas que não entra nas
estatísticas oficiais.
A quantidade estimada pelo lado da demanda é confrontada com os
dados oficiais de abate divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Cabe ressaltar que os dados oficiais incluem os animais
abatidos sob os três sistemas de inspeção – federal (SIF), estadual (SIE) e
municipal (SIM). A diferença residual entre a estimativa da quantidade
demandada e os dados oficiais é interpretada como o abate não fiscalizado.
No caso da abordagem da oferta, estima-se a quantidade de
bovinos que estariam aptos para abate em 2015. Esse cálculo é realizado com
base nos dados oficiais de rebanho, divulgados pelo IBGE, nas Guias de Trânsito
Animal (GTA), emitidas pelos serviços oficiais dos estados e que são informadas
ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e nos índices
zootécnicos das fazendas típicas analisadas pelo Cepea, em parceria com a
Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
Confronta-se, então, a quantidade de animais aptos para o abate
com os dados de abates divulgados pelo IBGE, sendo estes, por sua vez,
corrigidos conforme a movimentação de animais. Considera-se que a diferença
entre as duas variáveis é a quantidade de bovinos abatidos sem qualquer tipo de
fiscalização. Cabe ressaltar que um coeficiente de correção é aplicado, pois as
estatísticas consideram animais abatidos no estado, sejam eles produzidos no
mesmo estado ou trazidos de outras unidades da federação. Logo, utilizando-se o
saldo da movimentação animal entre os estados, obtém-se uma estimativa do abate
somente de animais produzidos naquele estado.
ESTUDO ANTERIOR – Em 2012, o Cepea
já havia estimado o percentual de abate não fiscalizado nacional em torno de
7,6% a 8,9%. No entanto, há diferenças metodológicas entre o estudo de 2012 e o
atual e, por isso, não devem ser comparados. Pela atual metodologia,
segregou-se a demanda de carne para população urbana e rural e refinou-se a
metodologia para estimar a oferta de animais, considerando-se regiões distintas
dentro dos estados e ampliando o uso das informações das GTAs.
Há desafios para avançar, ainda mais, nas estimativas do abate
não fiscalizado. Além da evidente necessidade de registro e divulgação de
estatísticas de movimentação de carnes entre os estados, há oportunidades de se
aprofundar os levantamentos de campo para detalhar o autoconsumo de carne nas
áreas rurais.
AUTORES DA PESQUISA – Este trabalho
foi elaborado com a coordenação dos professores Sílvia Helena G. de Miranda e
Sergio De Zen, que contaram com a equipe de pesquisadores formada por: Ana
Paula Negri, Caio Monteiro, Giovanni Penazzi, Gabriela Garcia Ribeiro, Graziela
Nunes Correr, Marianne Tufani, Maristela de Mello Martins, Natália Salaro
Grigol e Regina Mazzini Rodrigues.
Fonte: Portal do Agronegócio