Morre aos 68 anos Dino Rocha, o maior sanfoneiro do Brasil
De
acordo com a ex-mulher Ruth, além do diabetes, Dino tinha problemas
respiratórios e pressão alta; o acordeonista estava na UTI e morreu às 19h de
ontem
Internado há 27 dias no Hospital Regional de Campo Grande, por
complicações do diabetes, o sanfoneiro autodidata Dino Rocha morreu na noite
desse domingo (17). A família não dava muitos detalhes sobre o estado de saúde do
músico e disse há dias atrás que depois que o artista deixasse o hospital
ele daria uma coletiva de imprensa.
De acordo com a ex-mulher Ruth Haruko Ishikawa, além do
diabetes, Dino tinha problemas respiratórios e pressão alta. O acordeonista
estava na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) e morreu às 19h de ontem.
Chorando muito ao telefone, Ruth disse apenas que o ex-marido
partiu na hora dele. "Não sabemos a vontade de Deus, qual será o momento,
a hora. Ele era muito querido, um grande músico, tinha um talento
incrível".
A ex-mulher também fez breve relato sobre os últimos dias do
músico. "Apareceu uma infecção no braço, estava inchado e vermelho,
achamos que era uma picada de inseto e o levamos para o posto de saúde. Ele fez exames e
ficou lá".
No dia seguinte, com os resultados dos testes, os médicos da
unidade de saúde decidiram que ela precisava de vaga em hospital. Três dias
depois, no dia 25 de janeiro, Dino teve uma parada cardiorrespiratória e foi
levado para a ala vermelha do Hospital Regional, onde teve outra parada
cardíaca.
Desde o dia 26, o artista estava entubado na UTI do hospital. A
causa exata da morte ainda não foi esclarecida.
O velório começa ao meio-dia no cemitério Memorial Park, no
bairro Universitário, e será aberto ao público. O sepultamento está marcado
para às 9h desta terça-feira (19), no mesmo local.
Amigos - Pelas redes sociais, os compositores João Fígar e Guilherme
Rondon fizeram homenagens. “Adeus querido amigo Dino Rocha. Voa como a gaivota
pantaneira”, postou Fígar.
Rondon publicou: “Estou de luto, o Chalana de Prata está de
luto, o chamamé está de luto, as sanfonas estão de luto, a nossa música está de
luto, nosso Estado está de luto”.
O compositor chamou Dino de “gênio da música”. “Tenho maior
orgulho de dizer que estivemos juntos nos palcos da vida nestes últimos 30
anos. Todas as honras serão poucas”.
Guilherme Rondon ainda prestou condolências à família. Dino
deixa três filhos, dois netos e a ex-mulher, Ruth, que ficaram responsáveis
pelos cuidados nos últimos dias do acordeonista, que chegou a ser aclamado como
o maior do Brasil.
História - Dino Rocha nasceu no dia 23 de maio de 1951 em Juti (a 310
quilômetros de Campo Grande) e viveu a infância afastada da música, sem nunca
ter tido aulas para aprender a instrumentos. Filho de mãe alemã e pai filho de
gaúcho com argentina, Dino aprendeu as composições que ouvia em casa de ouvido
e, além de instrumentista, era compositor era cantor.
A carreira começou cedo, quando aos 9 anos decidiu aprender a
tocar acordeom. Aos 16 anos apresentou-se com seu primeiro grupo, “Los 5
Nativos”, de Ponta Porã. Em 1972, mudou-se para Campo Grande. Dois anos depois,
gravou pela primeira vez no LP “Voltei amor”, da dupla Amambai e Amambaí.
Quando chegou a Campo Grande, ainda usava o nome que consta na certidão de
nascimento: Roaldo. O nome artístico foi dado pelo poeta Zacarias Mourão.
De acordo com a Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, como
compositor são mais de 50, entre as quais, “Gaivota pantaneira”, parceria com
Mourão. Em 1991, recebeu o prêmio “Jacaré de Prata” como melhor instrumentista
do Brasil. Atuou em três capítulos da novela “Pantanal”, da Rede Manchete ao
lado de Almir Sater e Sérgio Reis, sucesso do começo dos anos de 1990, na
extinta TV Manchete.
Dino viajou o País inteiro. Em 2000, foi convidado para
participar do projeto “Balaio Brasil”, no Sesc de São Paulo apresentando-se ao
lado de Dominguinhos, Caçulinha, Sivuca, Hermeto Pascoal e Toninho Ferragut.
Também participou do projeto “Sanfona brasileira” pelo Centro Cultural Banco do
Brasil no Rio de Janeiro, em São Paulo e Brasília. Apresentou-se no Sesc São
Paulo em 2002 no projeto “Brasil da Sanfona”, quando representou a região
Centro-Oeste.
O conjunto de obras de Dino Rocha é formado por mais de 30
discos (entre vinil e CDs). Ele também participou, como convidado, de vários
trabalhos com outros artistas.
Em entrevista em 2016, Dino contou que, mais novo de todos os dez irmãos, só
descobriu o desejo de tocar sanfona no dia que um dos irmãos faleceu. Um
acidente no quartel de Ponta Porã levou precocemente o sanfoneiro da família. O
jeito foi homenagear quem partiu.
Nos últimos anos, fez parte da Chalana de Prata, na companhia de
Paulo Simões, Guilherme Rondon e Celito Espíndola tocando grandes canções da
história de Mato Grosso do Sul. Participou do FIB (Festival de Inverno de Bonito) em 2017 e de
shows na Concha Acústica Helena Meireles, no Parque das Nações Indígenas.
Fonte:
Lado B/ Campo Grande News