Nutrição de qualidade é essencial no período de transição de vacas de leite para não sobrecarregar sistema hepático
Alta demanda metabólica no pré e pós-parto sobrecarrega o fígado com prejuízo para a produção de leite
Logo após o parto, a vaca deixa de ser gestante
e passa a ser lactante. Nesse momento, sua demanda metabólica e nutricional
cresce, enquanto a imunidade é reduzida. “Cronologicamente, as fases de pré e
pós-parto compreendem as três semanas que o antecedem até três semanas depois.
Esse é um dos momentos mais importantes e críticos do ciclo reprodutivo da
vaca, que se prepara para a lactação”, explica Leonardo Rocha, Coordenador
Técnico-Comercial da Trouw Nutrition. Ele destaca que animais nessa fase precisam
de infraestrutura adequada e confortável, como sombra, ventilação e
micro-aspersão de água próximos ao local de alimentação. “Essas medidas
estimulam o consumo de matéria seca. Aumentar a frequência no fornecimento dos
alimentos, principalmente nas horas mais frescas do dia, também reduz os
efeitos negativos do estresse térmico”.
Leonardo Rocha assinala que entre os equívocos mais comuns nessa fase
estão o espaço de linha de cocho inadequado (< 70 cm/vaca), vacas com escore
de condição corporal acima do recomendado (ECC > 3,5), falta de conforto
térmico e agrupamento de vacas e novilhas no mesmo lote. “O período de
transição acende um alerta para o produtor, já que as demandas energéticas da
vaca costumam ser maiores do que a quantidade de energia ingerida, gerando
balanço energético negativo, caracterizado pela mobilização das reservas de
gordura do corpo e seu transporte na forma de ácidos graxos para o fígado,
resultando na oxidação para a produção de energia”.
No entanto, a capacidade de processamento de gordura no fígado é
limitada e a sobrecarga de ácidos graxos pode desencadear diversos problemas,
como cetose e fígado gorduroso. “Para evitar essa adversidade, é essencial
oferecer suplementação adequada de vitaminas do complexo B, protegidas da ação
ruminal, durante a dieta de transição para ajudar a melhorar a função hepática
por meio da oxidação de gordura. Atenção: se o fígado não puder funcionar de
forma eficiente, isso pode prolongar o balanço energético negativo da vaca após
o parto”, explica o especialista da Trouw Nutrition.
Além das vitaminas, minerais e demais aditivos são muito importantes
nessa etapa. É o caso da adição de monensina nas dietas de vacas de transição,
que altera o metabolismo ruminal, favorecendo o melhor uso do propionato disponível
no rúmen para a síntese de glicose no fígado. Assim, a concentração plasmática
de cetonas é reduzida e as chances de ocorrência de cetose subclínica diminuem.
Leonardo Rocha reforça que devido à redução da imunidade das vacas no
período de transição, os microminerais têm papel importante na função
imunológica e podem impactar positivamente a saúde dos animais. “O
resultado é visível: melhora na saúde do úbere, redução de problemas de casco e
desempenho reprodutivo positivo. Para isso, o produtor deve levar em
consideração a suplementação com fontes de alta biodisponibilidade de zinco,
cobre, selênio e vitamina E, nutrientes importantes para o controle de
problemas sanitários, como mastite e retenção de placenta”.
A estratégia nutricional mais utilizada no pré-parto é a dieta aniônica,
que consiste no fornecimento de sais aniônicos com base em sulfatos e cloretos
para negativar o balanço cátion-aniônico da dieta (DCAD). Essa prática
minimiza casos de hipocalcemia clínica e subclínica, além da cascata de eventos
negativos que podem ocorrer após o parto, como metrite, cetose, deslocamento de
abomaso e acidose ruminal.